Por muitos anos temos olhado para a multiplicação dos pães como um evento mágico, onde Jesus, do nada, fez surgir muitos alimentos. Mas o que aconteceu de fato naquele dia foi o primeiro banquete do Messias, que sai de Si e chama os discípulos a serem homens de fé e  instrumentos de partilha. O emérito Papa Bento XVI ressalta isto quando falava que a multiplicação foi uma forma de Jesus preparar os discípulos para a futura missão apostólica de alimentarem a humanidade com a Palavra e o Sacramento. Com isto podemos hoje passear na palavra de Mateus 14,13-21 a fim de compreendermos como Jesus  nos chama a celebrarmos com Ele em Seu banquete.

O banquete do Messias não iniciou com a comida oferecida, mas com a primeira atitude de Jesus ao ver aquele povo que o seguia. Jesus acabava de saber que seu primo, João Batista, havia sido assassinado, e buscava um lugar reservado para ficar, porém o povo continuava atrás Dele. Enxergando-os Jesus não consegue ficar parado na sua dor, mas vai além dela, e enche-se de compaixão por aquele povo. Ali começa o banquete do Messias, quando a primeira coisa que Jesus deu aquelas pessoas foi a sua atenção, ou seja Ele deu de Si. Vamos chamar de entrada.

Em continuidade Jesus cura a todas aquelas pessoas, mas os discípulos percebem que já está tarde e o local em que estão é deserto, e por isso é necessário que agora seja necessário o povo ir embora para se alimentarem. Jesus já tinha dado de Si, e agora pede que os discípulos também o façam, assim dizendo: “Eles não precisam ir embora. Vós mesmos dai-lhes de comer!” (Lc 14,16). Na visão humana era impossível, pois eram mais de cinco mil pessoas, para apenas cinco pães e dois peixes. E aí entra a segunda parte do banquete, onde podemos chamar de prato principal. Onde na mesa desse banquete não basta só querer receber de Cristo, pois isto já é garantido, é necessário que cada um pegue aquilo que tem, mesmo parecendo pouco, e ofereça para todos. Sim, para todos.

O prato principal precisa ser servido da melhor forma, e isso aconteceu quando Jesus pega o que os discípulos ofereceram – os cinco pães e dois peixes – ergue Seus olhos para os céus, pronuncia a benção, parte os pães e devolve para os discípulos para que eles distribuam as multidões. Vivenciando ali a Eucaristia.

Percebamos que não foi Jesus quem deu o pão ao povo, mas Ele pede para que os discípulos distribuam. Ou seja, aquilo que eles ofertaram, foi abençoado e agora é responsabilidade deles dar ao povo. Não se fala na Palavra que Jesus fez surgir mais pães instantaneamente, mas abençoando, deu para os discípulos e cabia eles a fé de dar a cada pessoa ali fatias generosas de comida, de modo que o povo fica saciado, ou seja os pães e peixes não faltaram, mas foram sendo partilhados na medida que se ia dando. Para que o milagre acontecesse era necessário que na mão de cada discípulo estivesse pão e peixe a dar, e então cresciam-se os pães nas mãos destes homens, que foram instrumentos de Deus para aquele povo. Tão verdade isso é que a palavra encerra dizendo que dos pedaços que sobraram recolheram ainda dozes cestos cheios. Ou seja, não foi caindo fornada de pão do céu, mas a medida que se partia e partilhava, mais Deus provia.

Este é o chamado de Deus para a sua Igreja e para nós, povo Kadosh, que dela fazemos parte: Partilhar a vida. Não podemos nos paralisar no pouco que temos a oferecer, mas sempre ouvir de Jesus: “Dê você mesmo de comer”. Tantas são as vezes que clamamos ao Senhor pedindo que surja algo na vida dos nossos irmãos, que aquilo que falta Deus faça prover, mas esquecemos que nós somos a via de providência na vida do outro. Da mesma forma que Jesus deu os pães aos discípulos para eles alimentarem o povo, Jesus também está dando a cada um de nós meios que alimentem nossos irmãos, seja de forma física, mas também espiritual.

A generosidade não consiste em ficar somente dizendo “Deus proverá”, mas é entender que Deus me faz instrumento de providência. A Palavra fala que Jesus também pediu para que os discípulos agrupassem as pessoas em grupos de cinquenta, e nosso Papa Francisco diz que isso significa que ali era a forma de torná-las agora uma comunidade, e não apenas uma multidão, assim na comunidade todos são alimentados pelo pão de Deus, que nunca deixa faltar. Na comunidade não se falta, pois tudo é comum. Falamos sobre generosidade nesta Casa não para que você a remeta a apenas uma oferta financeira mensalmente, mas que você vá além, como Jesus, quando sai da sua dor de luto e vai para a comoção da multidão. Que nós saiamos das nossas individualidades, onde por vezes é realmente necessário, mas ainda assim existe um outro que precisa do mais.