“As doze portas são doze pérolas; cada porta é feita de uma única pérola.” Apocalipse 21,21

O Apocalipse é um dos livros da Bíblia que mais nos geram confusão e dúvidas por conta do uso de figuras de linguagem e tantos simbolismos, mas acredito assim que é nisto que se apresenta também a riqueza do Espírito quando revelou ao apóstolo João tantas visões, e assim palavras para tentar traduzir a grandeza do que foi apresentado. Imagine o desafio de São João em tentar colocar em palavras aquilo que viu? Somente com expressões específicas seria possível traduzir, e ainda assim insuficiente. Hoje iremos nos aprofundar em algumas destas palavras escolhidas por Deus, por meio de João, para representar a glória da Nova Jerusalém. Iremos falar a respeito dos portões da Nova Jerusalém, e das pérolas, contidas nestes portões.

No antigo testamento Jerusalém foi posta em glória durante o reinado de Davi e Salomão, com o Templo do Senhor repleto de ouro, cortinas feitas com finos tecidos e tudo de melhor que se podia ter para honrar a presença de Deus. Em Jerusalém ficava também o palácio do Rei, que após o Templo, era o lugar de maior grandeza. A cidade era considerada tão santa e preciosa que havia um muro ao redor de si para protegê-la. Todavia os reis que sucederam Davi e Salomão não realizaram governos que glorificaram a Deus e assim a cidade perdeu sua glória. Tendo entendido isso podemos agora nos dirigir à Nova Jerusalém. Esta é a Igreja gloriosa de Cristo, onde Ele reina, e por isso jamais cairá em desonra, como a Jerusalém da terra. A Nova Jerusalém não é feita com os melhores alicerces da terra, mas por princípios espirituais, que não se perdem ou desgastam, como no caso do ouro e dos finos tecidos. E aqui vamos para um dos princípios que é personificado simbolicamente pelos portões e as pérolas que existem neles.

“Sobre as portas estavam doze anjos, e nas portas estavam escritos os nomes das doze tribos de Israel” Ap 21,12

As portas são meios para que se possa entrar e sair, este é o óbvio, mas para nós as portas são o chamado que a Igreja cumpre e assim glorifica a Deus. O povo de Deus é um povo que se coloca como meio, como intercessão, a Deus e às nações. T. Austin aborda isso de modo mais intenso dizendo que:

Eles (o povo de Deus) se tornam algo que as nações reconhecem como sendo um instrumento formado e preparado para sua bênção. Então, eles devolvem o reconhecimento mostrando que é por meio da igreja que eles podem receber o bem da vida, graça e plenitude.’’

Aí está a vocação da Igreja, que se tornará gloriosa em e para Cristo: Ser caminho para que as nações cheguem a Deus. E ao chegarem sabem reconhecer que são apenas meios, pois o Verdadeiro Caminho é Ele.

E as pérolas? Por qual motivo em Ap 21,21 diz-se que cada porta é feita de uma única pérola?

Acredito que já seja de conhecimento comum como a pérola surge: Pelo sofrimento. Ao entrar uma substância estranha ou indesejável na Ostra, esta passa a criar uma outra substância que venha proteger a Ostra do invasor. Assim, aquilo que foi invasor, vai sendo coberto por esta substância e assim forma-se a pérola. Porém, para que isso ocorra a Ostra precisou sofrer, pois a pérola é como uma cicatriz de algo que a feriu. Para que a pérola exista é preciso a angústia da Ostra.

Para que fosse possível esse movimento de entrada e saída nas portas da Nova Jerusalém foi necessário que Alguém sofresse, Alguém nos desse vida. É tão maravilhosa a sabedoria de Deus ao escolher a pérola, pois somente pelo sofrimento de outro ela existe, e nós só vivemos com graça e vida plena por Alguém que abraçou o sofrimento, transformando morte em vida. Retorno aqui para o chamado da Igreja em ser também estes portões, que trazem acesso, logo, é necessário que nós sejamos também como a Ostra, que para produzir vida ao outro permite-se passar pelo sofrimento.

12 anos de Kadosh. 12 portões de pérolas. Abraçamos com o Senhor o chamado que nos é feito em Mateus 16,25-26:

“Pois quem quiser salvar sua vida a perderá; e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará. De fato, que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, se perde a própria vida?”