Hoje se tem uma crítica muito forte a respeito das redes sociais e como estas distorcem a realidade, ou seja, como estas apresentam vidas perfeitas, sem manchas nos rostos, com grandes alegrias estampadas, onde nada falta, na verdade a única coisa que ali não existe é tristeza. Discordo que as redes sociais sejam as grandes responsáveis por todo esse fenômeno, pois desde sempre o ser humano se comporta distorcendo sua vida real. Nos tempos atuais nós temos fake news, que distorcem a realidade dos fatos. A prova disso é a pandemia pela qual passamos e constantemente surgem mensagens apontando curas a partir de métodos improváveis, mas que ainda assim tenha quem acredite. A questão aqui percebida é que nós distorcemos as coisas para que elas possam ser mais aceitáveis para nós mesmos e para os outros.
Quantas não são as vezes que quando crianças escutamos que: ‘’Vem visita aí. Se comporte’’. E com isso ‘’se comportar’’ era entendido como não fazer o que costumeiramente fazemos. Mostrar ao outro algo mais aceitável de nós e da nossa família. Porém, enxergo que muito além de um desejo de agradar ao outro, isso na verdade é uma consequência de sentir mais confortável consigo mesmo. Afinal, aquilo que condenamos em nós, é bem improvável que queiramos demonstrar ao outro. Da mesma forma funciona com as redes sociais, revelar ali a parte boa de nós mesmos aos outros é um modo prático que a tecnologia nos permitiu de dizer: ‘’Olha só. Eu posso ser melhor. Eu não sou tão ruim assim. A minha realidade pode parecer ser melhor, e eu também’’. Logo, há um julgamento sobre que o real, a realidade sejam coisas verdadeiras, porém não tão bonitas, adoráveis e aceitas, para nós mesmos. E de fato não são rs.
As amizades e os relacionamentos não são sempre regados por tardes de encontros contemplados pelo riso e alegria, porém passam por processos de dores que podemos chamar de desentendimentos, brigas, culpas. Os trabalhos não são feitos só por promoções de cargos e altos faturamentos, na verdade a pandemia mostrou que trabalhar não é só manter o pão da minha casa, mas também prover com sacrifícios e suor a toda uma comunidade. E falando em comunidade, podemos aqui entrar na nossa questão mais próxima, e veja só, ela também não é só eventos lotados e bonitos, equipes super e sempre ungidas e líderes totalmente assertivos e perfeitos.
Costumamos olhar para a grama dos vizinhos e sempre achar que ela está mais verde, porém só o vizinho que acorda 5h da manhã para rega-la, comprar adubo em locais de difícil acesso e todo domingo cortá-la, sabe o motivo pelo qual a grama está verde.
Precisamos entrar em um entendimento de que o real não é perfeito mesmo e também nem sempre aceitável para todos. E se as questões da vida real não são tão belas, o próprio real mostra-se belo por isso. Não é por as coisas não serem da forma pela qual desejaríamos que elas fossem que elas se tornam piores. Na verdade, o real é a verdade. E a verdade é bela por isso, não pelo que se almeja que ela seja.
Talvez estejamos aparentando ao outro algo melhor do que o real da nossa vida é. Mas é sempre bom lembrar que a vida real é feita de pessoas, e no fim das contas estamos vivendo processos semelhantes. Parafraseando uma amiga recente:
‘’As vidas se tocam. A gente tem tanto dos outros sem nem saber. E como é bom se achar por aí. Pelo menos me sinto menos só no mundo’’.
Ser real é ser com o outro, e juntos sermos partes de Algo maior.
Juliana Lima (Comunidade Kadosh)